Sim, terapia tem risco
Muita gente foge de remédio por medo dos efeitos adversos, mas desconsidera os riscos de uma terapia mal conduzida
Ninguém gosta de remédio, nem eu. Remédios para o cérebro - psicofármacos - são particularmente mal vistos. Fala-se em risco de dependência, em dopar a criança, em medicalizar a infância e outras coisas do gênero, que podem ou não serem verdadeiras, a depender do contexto específico. Não dá para generalizar.
Por outro lado, não vejo as pessoas nem de longe se preocupando com as terapias. É como se fosse algo que, no máximo, é inócuo e não servirá para nada. Que “mal não faz”.
Pois bem, não é assim. E quando se trata de crianças, em fase de desenvolvimento e constituição da sua identidade, esta é uma questão ainda mais delicada. Vários pesquisadores e a própria comunidade neurodivergente têm se voltado sobre esse assunto, questionando como pesquisas em autismo foram aprovadas e conduzidas sem analisar medidas de risco e efeitos adversos.
Me espanta a naturalidade com que as pessoas passaram a aceitar - e até a demandar - prescrições de terapias intensivas para crianças pequenas. Achar que colocar uma criança por 20 horas por semana com uma pessoa "treinada" dentro de um quarto (ou pior, de um consultório!) é algo ok, saudável ou tranquilo no contexto de um “transtorno” é, na minha opinião, um problema de julgamento das coisas. Não é nada simples e, na maioria das vezes, não tem indicação alguma.
Precisamos urgentemente parar de banalizar prescrições de 20 horas ou 40 horas de terapia.
Há modos e modos de estimular. Terapia pode fazer mal sim. Muito mal. Terapias podem ser mal conduzidas, invasivas, desrespeitosas. Podem estressar a criança, deixá-la insegura, cansada, confusa, frustrada, desmotivada e até raivosa. Antes de ser uma criança “com transtorno”, ali está uma criança que precisa ser cuidada, compreendida e respeitada. Passar por cima disso em nome da necessidade de “estimular” ou, o que é pior, "tratar” é algo que precisa ser avaliado com muito critério.