Canabidiol é mais seguro?
O fato de ser extraído de uma planta não garante nenhuma segurança ao produto
Dra. Renata,
minha filha tem TEA leve, faz acompanhamento psiquiátrico e toma medicamentos. Pergunto se a médica prescreve o CBD, pois medicamentos demais não somos a favor. Então estamos a procura de um profissional que nós leve para um mesmo objetivo.
Cara mãe,
Vou aproveitar a sua pergunta, tão importante e tão frequente atualmente, para tentar esclarecer o que eu penso sobre a questão do — tão caro quanto badalado — canabidiol no TEA.
A primeira coisa importante é desapegar da ideia de que canabidiol não é remédio. O fato de ser um produto derivado de uma planta — em oposição a um produto sintetizado artificialmente — cria essa percepção de ser algo "natural". E com isso vem a ideia de mais seguro. Mas isso está longe de ser verdade.
O canabidiol age como age qualquer outro psicofarmáco: você ingere o produto, ele é absorvido, entra na corrente sanguínea e vai para o cérebro. Lá, ele se liga a receptores específicos, como porca-e-parafuso. Essa ligação — do remédio ao receptor nos neurônios — faz aumentar ou diminuir os níveis de alguns neurotransmissores (dopamina, noradrenalina, serotonina, etc). É assim que agem os medicamentos, é assim que age o canabidiol. Quando o CBD se liga aos receptores endocanabinóides que temos no nosso cérebro ele faz coisas como, por exemplo, modular os níveis de dopamina. Isso e várias outras coisas que vamos descobrindo ao longo…
O uso de CBD para o manejo de sintomas associados ao TEA tem despertado interesse crescente nos últimos anos. No entanto, ainda é uma área relativamente nova de pesquisa e, embora alguns resultados preliminares sejam promissores, são necessários mais estudos rigorosos para entender completamente sua eficácia e segurança. Especialmente no longo prazo e em crianças.
Alguns estudos mostraram que o CBD pode ajudar a reduzir certos sintomas comportamentais associados ao autismo, como ansiedade, agressão e automutilação. O CBD demonstrou ter efeitos ansiolíticos (redução da ansiedade) e sedativos, o que pode beneficiar indivíduos com TEA. No entanto, essas descobertas são em grande parte extrapoladas de pesquisas em outras populações, e as evidências diretas em pacientes com TEA ainda estão surgindo.
Desafios e Limitações
Falta de Ensaios Clínicos em Grande Escala: A maioria dos estudos sobre CBD para autismo são de pequena escala, observacionais ou baseados em resultados relatados pelos pais. Existem poucos ensaios clínicos randomizados de grande porte, que são necessários para estabelecer conclusões definitivas sobre eficácia e segurança.
Variabilidade nas Respostas: Nem todos os indivíduos com autismo respondem ao CBD da mesma maneira. Alguns podem experimentar melhorias significativas, enquanto outros podem não ver nenhum benefício. Essa variabilidade torna difícil generalizar os resultados e recomendar o CBD como um tratamento padrão.
Possíveis Efeitos Colaterais: Embora o CBD seja geralmente considerado seguro, pode causar efeitos colaterais como sonolência, mudanças no apetite, diarreia e potenciais interações com outros medicamentos. A segurança a longo prazo em crianças ainda está sendo estudada.
Incertezas na Dosagem: Não existe um regime de dosagem padronizado para o CBD no autismo, até porque não existe orientação de nenhuma sociedade médica para prescrição de CBD no autismo.
Questões Regulamentares e de Controle de Qualidade: A qualidade e a concentração dos produtos de CBD podem variar significativamente devido à falta de regulamentação no mercado. Essa variabilidade pode afetar tanto a segurança quanto a eficácia.
Em resumo, o CBD não deve ser considerado um tratamento de primeira linha, mas sim uma opção que pode ser explorada. A segurança de uma medicação não é dada pela origem do produto, mas pela experiência clínica e científica acumulada ao longo de décadas de existência no mercado, que permitem afirmar as consequências - boas e ruins - de um dado composto químico. Como o CBD só foi aprovado, nos EUA, pela primeira vez em 2018, estamos falando de um fármaco que ainda está na sua infância. Logo, o conhecimento de longo prazo simplesmente inexiste neste caso.
Caso você deseje experimentar o CBD, escolha um produto aprovado pela ANVISA, garantindo a qualidade e o controle farmacêutico necessários.